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Título: José da Costa Silva (1747-1819) e a receção do neoclassicismo em Portugal: a clivagem de discurso e a prática arquitetónica
Autor: Teixeira, José de Monterroso
Orientador: Faria, Miguel Figueira de
Palavras-chave: José da Costa e Silva
Data: 24-Abr-2013
Resumo: Esta investigação procurou mapear a obra de José da Costa e Silva (1747-1819) no contexto da prática e da cultura arquitetónica vigentes em Portugal nos finais do século XVIII e princípios do XIX. Decorrente da sua formação na Accademia Clementina de Bolonha (1769-1779) o seu discurso profissional traduz a demarcação das persistentes correntes tardobarrocas e rococó que dominavam o panorama da criação e da encomenda naquela moldura histórica. A focagem que estabelece no discurso neoclássico opera-se através das propostas que ilustram a atualização absorvida em Itália, onde o ensino escolar e o gosto estético rececionaram o novo código artístico que circulava internacionalmente. O protagonismo que vem a alcançar no seu regresso a Lisboa revela-se na atribuição dos grandes empreendimentos construtivos com que foi distinguido e que definiram a dinâmica artística epocal. A emergência da arquitetura de incidência pública, de entoação iluminista, acusada nas obras do Érario Régio (1789), do Real Teatro de São Carlos (1792), do Hospital Militar de Inválidos, em Runa, (1792) ou da Academia do Comércio e de Marinha do Porto (1803) enunciam a subordinação às novas tipologias de índole secular, que inscreviam a modernidade e o novo compromisso do espaço urbano. Com o elenco das residências de aparato para as elites aristocráticas (Pombal, Marialva, Quintela, Anadia, Pina Manique, ou ainda o palacete do Ramalhão (1802) para a princesa D. Carlota Joaquina), alinham-se coerentemente princípios de composição que assimilam modelos contemporâneos. Projetos que vêm ainda a acolher programas ornamentais nos interiores, tributários de alinhamentos neo pompeianos ou ilustrando léxicos anglopalladianos codificados pelos irmãos Adams. Na radicalidade da afirmação linguística, na invocação das referências a Andrea Palladio em que se alimentou e enformou a sua identidade de arquiteto - o epíteto de neopalladiano é susceptível de traduzir o seu registo idiomático. Quando lhe foi pedido um programa para a instalação do corte no Terrreio do Paço veio a produzir uma apreciação contundente à arquitetura da reconstrução, no pressuposto do seu empirismo, que declina uma gramática projetual de matriz seiscentista e no pragmatismo retardatário do desenho dos engenheiros militares. No enquadramento taxativo das premissas do Plano pombalino de 1758 formatou-se o paradigma que impôs a estandardização e a supremacia da intervenção territorial. A aplicação dos preceitos vitruvianos que criam a textura das propostas neoclássicas não ocorreram e a vernacularidade revelou ser a sua marca de água – argumentação que acerrimamente sustentou. Em contrapartida foi criticado, de modo severo, pelas suas opções construtivas no Real Erário e pela escala colossal do edifício, não sem mesmo revelar intransigente insensibilidade à sua reavaliação. A encomenda para o novo projeto do palácio da Ajuda (1802) provocou uma fratura que exemplifica a incorporação do neoclassicismo nos programas de representação da corte, sob o despotismo ilustrado de Rodrigo de Sousa Coutinho, 1.º conde de Linhares. Com a adoção das novas linguagens que Costa e Silva e Francisco Xavier Fabri aportaram ao seu desenho, pode aferir-se o patamar cosmopolita na dinâmica do establishement mariano. A vincada obsessão de Costa e Silva pela monumentalidade que atravessou a sua trajetória, e em que Caserta definia o arquétipo, pôde vazar-se nesta residência da corte (centro simbólico que o Terramoto fizera elidir e se improvisara, em alternativa, na Real Barraca). Com o acervo documental encontrado, revela-se a competência de atelier e a preparação técnica derivada de uma aprendizagem académica, instrumentos que marcaram a diferença profissional que soube, assim, instalar na cultura arquitetónica portuguesa – sendo, consequentemente de lamentar que não chegasse a editar o seu anunciado tratado de “Arquitectura matemática”. Sob a requisição do príncipe regente, a recuperar da turbulência provocada pelas invasões francesas, vem a transferir-se para o Rio de Janeiro (1812), como “arquitecto de todas as obras reais”, mas prioritariamente para acompanhar o acabamento do Real Teatro da Ópera de São João. Edifício que manifesta como que uma clonagem do São Carlos de Lisboa, a demonstrar ainda o esforço de metropolitização da agora capital do império, e a querer afirmar-se como indicador de registo político e urbano. No largo do Rocio onde se situava a Ópera deu ainda o risco para o elegante palacete para o poderoso barão de Rio Seco, residência de prestígio e de aparato. Costa e Silva reuniu quer, uma excecional biblioteca, quer uma extraordinária coleção de desenhos sobretudo de maneiristas italianos, - ambas, encontram-se hoje na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro -, a certificarem a dimensão humanista de um arquiteto que, de modo rigoroso e consistente, foi permeável à apropriação do neoclassicismo, cujo modelos procurou disseminar em Portugal e no Brasil.
URI: http://hdl.handle.net/11144/305
Aparece nas colecções:BUAL - Teses de Doutoramento
DH - Teses de Doutoramento

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